NETFLIX TAMBÉM É CULTURA
AMOR POR METRO QUADRADO (2018)
Juro que não me esforcei muito desde de a última postagem, na qual me queixei das falsas promessas que Woody Allen fez ao
colocar seus dois filmes que mencionei no gênero comédia romântica. Não posso
negar como gosto muito de filmes nesse estilo. Depois da decepção que se
passou, no mesmo dia veio Amor Por Metro Quadrado (Anand Tiwari) me consolar. E foi
arrebatador!
A história se passa em Mumbai, na Índia, uma cidade lotada,
onde as pessoas buscam ter seu cantinho, sua casa no meio de todo caos. E é
disso que o filme fala, sobre ter a casa própria e a importância que isso gera
para a população. Vemos tudo pelas lentes de Sanjay (Vicky Kaushal) e Karina (Angira Dhar) que se conhecem
numa festa de casamento de uma colega da empresa em que trabalham. E não nos surpreende
o que os une, dada a temática do filme.
Ele é engenheiro de software, filho de um maquinista
de trem (que tem aspiração por ser músico –descobri que o ator é, na vida real),
por esse motivo, eles vivem se mudando entre estações e moram de aluguel em
cubículos, nos quais Sanjay falha em encontrar privacidade, não só em casa. Já ela cuida dos empréstimos feitos pelo banco, mora com
a mãe, sofrendo com o vizinho fanfarrão do andar de cima, além de estar prestes
a se casar e viver a vida considerada pacata junto aos familiares de seu noivo.
Quase capacho da chefe, Sanjay acaba conhecendo
Karina e, ainda que por meio de um desentendimento, descobrem algo em comum. O
desejo deles frustrado pelos seus parceiros (ele pela chefe que o tem como
amante) de não desejarem ter uma casa própria pelo programa do governo que
oferece um "Minha Casa, Minha Vida" só para jovens casados e com casas de um
padrão de vida muito diferente do que conhecemos. Sanjay nunca conseguiria
pagar sozinho, Karina tem seu sonho, bem romantizado, de dividir tudo mesmo
50/50 com quem quer fosse seu marido. Não parece perfeito?
Com aspectos da cultura indiana um pouco forte, me
instigando a procurar saber aspectos que desconheço ou desejar ser conhecedora
para desfrutar melhor ainda do filme. Como sabemos, (momento geográfico
chegando...) a Índia é o país com maior diversidade religiosa, sendo a religião
de Sanjay Chaturvedi hindu (79% da população) e Karina D’Souza católica (tendo
2,3% de cristãos), temos um recorte disso no filme. Nas minhas pesquisas sobre
o longa encontrei resenhas indianas com muita ênfase nos sobrenomes das
personagens principais e pensei se isso não era uma dica para que eu soubesse
aspectos do estilo de vida e de crenças delas. Pois o destaque quanto a
diversidade religiosa aparece tão de repente, entre o segundo
e terceiro ato, que agora me fez desacreditar que um indiano ou alguém
mais informado tivesse experienciado o filme da mesma maneira que eu.
Da mesma forma, parei para pensar se também não era uma surpresa para o casal que está se conhecendo efetivamente, mais do
meio para o final do filme, além de outros aspectos claramente apresentados
como desconhecidos por eles. Ainda assim, a religião causa faíscas entre as
famílias dos dois, com certos contrapontos cômicos e quebra de tradição, sem
tornar nenhuma das duas religiões uma piada para a outra.
Por vezes, ainda que não tenha descoberto o intuito
do uso, o filme recorre a tradição musical Bollywoodiana, com cenas que me
confundiram em certo ponto, por não entender se era uma proposta do gênero
musical (como quando cantavam alguma espécie de sentimento), ou algo meio de
vídeo clipe (muito presente no momento que eles se imaginam na casa e há muita
fantasia - e até uma referência a Quem Quer Ser Um Milionário) ou só uma música
qualquer da festa que rola no começo do filme que exigem danças sincronizadas e
os personagens só dublam porque curtem a música que está tocando. Mesmo assim,
o filme não imerge nessa atmosfera, talvez pela sua estreia no serviço de
streaming e não numa sala de cinema (dado que os cinemas indianos não têm
cadeira, justamente para acompanhar os passos de dança que haverão ao longo do
filme!).
Além disso, o filme trouxe para mim uma visão que
poucos dos filmes que já assisti curtem abordar para valer (principalmente quando não é o foco), a vida urbana de
uma cidade de um país emergente, com metrôs não seguros, lotados e que se
confrontam com os riquixás (outro meio de transporte, como se fosse um táxi
mais barato) e aspectos sociais que muito se assemelham com o que vemos pelo
Brasil, deixando um pouco de lado as diferenças culturais. Ainda que
houvesse romantização em outros aspectos, até mesmo os que desconheço, como o da
vida no país, senti sinceridade nisso pelos detalhes (por exemplo, andar com a
bolsa para frente para evitar roubo e tal, ainda que seja um exemplo meio
tosco).
O primeiro filme de Bollywood produzido e (automaticamente)
veiculado pela Netflix para mais 190 países, chegou até mim de forma muito mais
interessante do que para um nativo, como pude observar nas minhas pesquisas
(algumas resenhas até continham o filme inteiro explicado!). Mesmo que em 2
momentos o roteiro possa ter caído um pouco, me fazendo duvidar se haveria mais
história em mais 1h de filme e, logo depois, se não havia forma melhor de me
engabelar (justamente com a reviravolta que eu achava que estava faltando), ele
conseguiu me ganhar para torcer e até gritar com os personagens (vários “não! Não
faça isso, seu bobo” –sim, era para o Sanjay tolo). Sem contar, claro, com a
beleza do filme, numa direção que achei muito boa com vários planos muito bons
e interessantes para a narrativa, também com cores vibrantes nos figurinos (modernos) de
Karina e todo o cenário adequado.
Um filme romântico e divertido, apesar de não ser muito
profundo, foi a escolha certa da Netflix como especial de Valentine’s Day. Vai
te render risadas e momentos de aconchego e muitas conversas com os personagens
cheios de vivacidade. Muito enriqueceu na minha experiência com o longa, que até rolou uma vontade de andar num requixá ou receber um pedido de casamento
dentro de um só para saber como é!
E aí, ficou curioso para assistir Amor Por Metro Quadrado? Ou já assistiu? Compartilha aqui com a gente o que achou, nos comentários abaixo ou pelo Twitter e Facebook. Não deixem de seguir a gente por lá ou por aqui (na barra lateral) para sempre receber novidades sobre cinema e cultura pop, além dos posts aqui no blog!
Ah, e a propósito, vocês também não querem um filme
brasileiro original da Netflix? Fiquei até com inveja dos indianos...
Até a próxima olhada!
Comentários
Postar um comentário