NÃO É SÓ PORQUE VENCEU O OSCAR...

"Miguel  Pensei que poderia ser uma daquelas coisas que os adultos inventam para contar para as crianças! Tipo vitamina. 
Tía Victoria Miguel, vitaminas são de verdade!
Miguel Ah, agora estou considerando que elas talvez sejam mesmo. "

Pego muitas pessoas, devido ao evento do domingo passado, desesperadas por estarem por dentro dos filmes que o envolvem. Não vou mentir, também estava. Mas, por ene motivos tive (e, por ora, ainda estou tendo de) me contentar com os comentários de pessoas que gostam de falar sobre cinema e já assistiram a todos. Shame on me (ou não, não sei), ainda que eu seja apaixonada por cinema e queira estuda-lo em todos aspectos, eu tenho que lidar por estar por fora. Mas, pelo menos, parte da lição de casa eu fiz e assisti ao filme dirigido por Lee UnkrichViva! –a vida é uma festa (o título em inglês mais curto, aceito pelos comentadores, mas talvez não pelos espectadores, Coco –levando o nome de uma personagem no filme). Mas logo, logo, assistirei um outro indicado a animação que já está na Netflix (Com Amor, Van Gogh).



Em processo de produção desde de 2011, o filme entrega nada mais, nada menos que perfeição! Minhas expectativas eram muito normais, ainda mais por se tratar de um filme da Pixar e ter uma temática diferenciada do que o estúdio está acostumado a fazer (segundo longa depois de Valente que se passa em outro país, que não EUA). Adiciono aqui que não é a única animação já feita sobre o Día de Muertos, tendo Festa No Céu (2014). E mesmo que eu tenha demorado para finalmente conseguir assistir a Viva!, foi irresistível! A riqueza em detalhes (com destaque para os personagens tocando violão!) e a vivacidade típicas de animações da Pixar, me arrancou suspiro e quase meus olhos (que não queriam sair da tela ou por tanto chorar!).


   Miguel (Anthony Gonzalez), sonhador, não é como o resto da família e não dá a devida importância para a tradição mexicana, apesar de talvez ser por mais irritação por aqueles que não aprovam seu desejo de ser músico, do que pelo sentido verdadeiro. Sabe aquelas coisas que você acha besteira que sua avó, mãe e vizinhos falam? Então, nesse filme vemos como a tradição é um elemento importante para a vida em família e comunidade. Essa união na crença de algo que pode ou não ser verdade, mas vocês acreditam, não importa quão questionável seja. Vemos também o perigo que certas omissões trazem, levando as pessoas a viverem algo que não deveria ser esquecido e cai perfeitamente a música que também ganhou a estatueta de melhor canção original, Lembre de Mim (na voz de Rogério Flausino em Português –versão comercial). Músicas eram um pré-requisito para a trama e conseguem grudar até determinado ponto (adoro The World és Mi Familia, ainda que embrome no espanhol!). Até meu irmão pequeno caiu no encanto, querendo imitar o Miguel com seu violão!

A magia Pixar traz para nós a verossimilhança, não se trata de fantasia, os mortos poderem revisitar os vivos todo ano no dia 2 de novembro. A ambientação no México e todos os trejeitos de famílias desse país nos facilita imergir na história. A cidade dos mortos (inspirada numa cidade que existe no México, Guanajuato), a passagem com check-in e translado pela ponte das flores que os vivos usam nas oferendas, entregam autenticidade e uma marca registrada para criatividade. 


Com alguns “easter eggs”* (como personagens de Toy Story, o pôster de Os Incríveis 2 e o típico A113 –número da turma em que os animadores da Pixar estudaram na CalArts), temos muitos momentos emocionantes, de apertar o coração, de surpresa surpresíssima (não dá pra contar...), de quentinho no coração e muita motivação. O roteiro consegue ser forte a todo ponto e muito reflexivo.


O crescimento (arco) de Miguel é onde a gente se encontra como membros de uma família. Às vezes ficamos de saco cheio, reclamamos, não nos aceitamos e nos confrontamos, mas tudo em nome do amor. A família se mostra como uma raiz que pode criar novos ramos, seja a gente aprendendo com ela ou o contrário. O amor incondicional por quem reconhecemos como família está em poder contar um com outro, ainda que seja necessário quebrar barreiras para isso e ainda assim, também quebrar a cara. 
Foi o que mais achei interessante no filme, não temos nada parecido da luta do bem contra o mal (maniqueísmo). Todo mundo tem um pouco de cada, ainda que um levemente mais atenuado que o outro, são personagens extremamente tridimensionais. A família, por ser um empecilho se torna um vilão, mas nem por isso ela consegue ser o mal que merece ser punido, mas sim redirecionado, à base de comunicação. Além disso, nos apresentam um personagem do estilo trapaceiro, em quem parece que não devemos confiar (em todos os casos). Mas aí que está a preocupação, por que ele se tornou assim? Todo mundo tem algo para arriscar, não somos 100% algo, muito menos uma característica. E, não obstante, temos o homem-admiração que parece ser a melhor pessoa do mundo, mas muitos vivem de aparência. Cada um merece uma sentença, desde o Miguel incrédulo com as tradições até os demais que mencionei.


Somos cegados pela aparência e a necessidade descabida de fazer as coisas por qualquer motivo, deixando a emoção sempre falar mais alto, como se mais nada tivesse razão. O filme também questiona isso, colocando Miguel que tem o sonho de ser músico, contrariando tudo o que sua família deseja. Por muitos anos engolimos essa necessidade de forma sútil. O “agarrar seus momentos” é muito diferente de mudar a crítica feita em cima dos nossos sonhos. Lutar para mudar não traz como resposta desistir de tudo porque não se obtém apoio, mas sim o não desistir do que há de melhor. Demonstrar nossa paixão para as pessoas, isso as deixam estupefatas a ponto de acreditarem ser o certo/melhor para você. Um processo árduo, desgastante, mas gratificante no final, posso falar por mim (caso contrário o tema desse blog seria outro, se é que ele existiria).
Enfim, filmes como esse, que agregam muito valor (não menosprezando os demais, todos têm o mérito que objetivam) não devem ser aclamados simplesmente pela estatueta que recebem, pois isso é o reconhecimento de um trabalho muito longo que exigiu muita dedicação e, consequentemente, se torna um chamariz. Não podemos jamais esquecer do histórico que o cinema traz em relação aos filmes, seu caráter reflexivo. E muitas vezes, em meio ao caos em que vivemos, sempre bom relembrá-lo e tirar algo de novo para si, um ensinamento.



Não poderia de deixar de dedicar esse post para toda família, com todo meu coração! 💞
E você, assistiu a Viva – a Vida é uma Festa e também teve dificuldades de pronunciar o título inteiro, tanto esquecendo como por se embolar? Venha nos contar o que achou, aqui nos comentários do blog, no Facebook ou no Twitter (clicando nos respectivos links e para também nos acompanhar e não perder nada!). Não esqueçam de compartilhar com quem ama, para quem deixaria oferendas, ou para aquele seu amigo obcecado pelo Oscar ou igual à mim, apaixonada por animação!


Até a próxima olhada! 𝨗😉🎬

*Easter Egg: apelido, inspirado na tradição americana da caça aos ovos de Páscoa, denominado para surpresas que não são facilmente capturadas pelo público, deixadas pelos animadores, cineastas e outros produtores de conteúdo.

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